
Esta entrevista foi feita pela Renata Moura, repórter de economia do Tribuna do Norte durante a realização da última edição da Festa do Boi. O Veterinário Inácio Kroetz, secretário de Defesa Agropecuária (SDA)fala sobre a auditoria e sobre a possível reclassificação do estado com relação a Febre Aftosa.
O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Inácio Afonso Kroetz, disse ontem que “não há data agendada” para que o Ministério faça uma auditoria e decrete se o Rio Grande do Norte passará ou não de área de risco médio para livre de febre aftosa. O anúncio da mudança era esperado para esta edição da Festa do Boi, segundo expectativas anunciadas por alguns criadores. Na visão do secretário, a inspeção não deve, entretanto ser precipitada. Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, ele fala sobre os riscos de uma possível precipitação e aponta os avanços que enxergou nesta 47ª edição do evento, com encerramento programado para hoje. Kroetz desembarcou no RN para participar de reuniões e para conferir o clima do setor agropecuário um ano após a última reclassificação.
O que é a Festa do Boi aos olhos da Secretaria?
A Festa do Boi é o evento de maior importância para a agropecuária do Rio Grande do Norte. Estive na festa em duas edições anteriores e em duas situações totalmente diferentes. A primeira foi em 2007, numa reunião técnica quando lançamos, junto com a governadora (Wilma de Faria), a segunda etapa da vacinação contra febre aftosa. Nessa ocasião, houve o compromisso do setor privado, do governo estadual e do governo federal de que o RN iria sair da incômoda situação desconhecida para o risco de aftosa. De lá para cá houve uma intensa movimentação e uma grande conscientização dos setor privado e houve investimento do lado do governo federal, apoiando a criação de uma estrutura de serviços veterinários e de defesa agropecuária do estado. Isso, com compromisso do governo estadual, que investiu, capacitou, custeou e implantou esse serviço. A consequência disso foi que durante as avaliações do Ministério da Agricultura foi reconhecido que houve um grande avanço na vigilância e na estrutura do serviço estadual e foi reconhecida então a classificação de risco médio. Na segunda vez que vim para a Festa do Boi, em 2008, foi entregue oficialmente a informação de mudança de classificação.
E nessa terceira visita, o que o senhor encontrou?
Eu pude constatar que os resultados daquela classificação (de risco médio) hoje estão bastante claros.
Que resultados seriam esses?
Hoje nós temos muito mais animais, mais motivação do criador, do expositor, do comprador do material genético daqui. Houve um crescimento em número e em qualidade dos animais e também da procedência dos animais. Procedência, qualidade e destino é que dão o termômetro de uma exposição. Houve então realmente um reflexo positivo. Mas o que é que motivou isso? O trabalho conjunto de todas as lideranças. Todos trabalharam de forma unida. Eu não vi mais nenhuma cisão entre os objetivos para alcançar esse resultado. Hoje há uma expectativa muito grande para que os estados vizinhos também consigam avançar nessa classificação. Isso vai melhorar também a situação do Rio Grande do Norte.
Qual é a situação dos Estados vizinhos?
Hoje só têm risco desconhecido os estados do Ceará, Piauí e Paraíba. Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Maranhão são risco médio. Nós esperamos que em breve Pernambuco, Alagoas, RN e Maranhão consigam que seus vizinhos primeiro passem para risco médio e que depois a região consiga, dentro de um ano, a classificação de livre de aftosa, até o final de 2010.
O Rio Grande do Norte vai ter que esperar até o final de 2010 para ser reclassificado?
Não. Hoje (ontem) já conversamos com a governadora. Ela está empenhada em dotar a estrutura com capacidade para que se possa reconhecer o estado como livre de febre aftosa. Mas claro que isso depende de alguns fatores. Depende do momento, da avaliação do histórico, do que o estado fez durante esse um ano em que esteve classificado como risco médio. Para ser reconhecido como área livre o estado precisa ter, por exemplo, um cadastro atualizado das propriedades, do produtor, do proprietário, com o inventário animal, a finalidade desses animais que estão na propriedade, a atividade econômica principal dessa propriedade e um controle absoluto da movimentação dos animais.
Esses pré-requisitos são os mesmos que o Estado teve que preencher para mudar para risco médio?
São. O que diferencia é o histórico. Para conseguir chegar aonde chegou o estado precisou ter cadastro, controle do movimento, uma excelente cobertura vacinal e de gente para fazer isso. Para que todas as ações possam ocorrer você precisa ter veterinários, auxiliares, técnicos e outros profissionais capacitados e motivados pela estabilidade no serviço e pelo salário. A avaliação que se faz com a auditoria é uma fotografia do momento, mas enxergamos além disso, vemos se essa fotografia tem sustentabilidade, se tem estrutura para manter os resultados.
A expectativa dos criadores era que a reclassificação fosse anunciada na Festa do Boi. Há possibilidade de isso ocorrer ainda este ano?
Depende. Se, quando realizada, a auditoria concluir que há condições se dá o diagnóstico. Se essa auditoria concluir que não há condições, há que se esperar um tempo para fazer nova. Não dá para fazer uma auditoria atrás da outra porque o histórico não muda. A carta do governo solicitando a auditoria chegou ao Ministério, mas a inspeção ainda não foi formatada porque vamos ter na primeira quinzena de novembro uma reunião em que todos os estados vão apresentar seus avanços, suas dificuldades e vão fazer uma avaliação da região. Aí acontecerão novamente algumas auditorias e antes do final do ano ainda teremos mudanças no Nordeste, sem dúvida.
Mas considerando que o governo já formalizou o desejo de receber uma nova auditoria, há possibilidade da auditoria ser realizada este ano?
Não temos data fechada. Não há atalhos nesse movimento. Existe todo um protocolo a se cumprir. Primeiro se avalia documentalmente tudo o que aconteceu durante um ano. Essa avaliação documental é feita em Brasília. Vamos buscar depois no estado a comprovação do que foi relatado e a comprovação de outros pontos. É todo um processo. A verificação in loco pode levar uma, duas semanas, varia de estado para estado. Depois se faz um relatório, uma avaliação. Trinta ou 40 dias após a visita técnica sai o diagnóstico. A auditoria no RN não está agendada, mas isso não é uma coisa que se deve precipitar. O estado sabe, a governadora sabe, o secretário sabe, o nosso serviço aqui sabe que tem sempre uma coisa que se pode melhorar. E ninguém quer expor uma estrutura a uma avaliação se não há grande certeza de que vai dar certo. Se houver segurança de que está tudo bem...Se não, o estado pode escolher uma outra oportunidade. Agora, não se analisa só o estado. Se analisa todo o entorno.
O que isso que dizer?
Para que o estado fique livre hoje ele vai ter que me provar que ele tem condições de fechar completamente as divisas com os estados vizinhos que estão em risco desconhecido. Pode ser que seja bem mais interessante aguardar um pouco para esses estados ficarem numa situação melhor. Se não, vai ter que demonstrar uma coisa que custa caríssimo, que precisa de muita gente e que pode impactar na sua classificação.
Então pode demorar até o final de 2010..
Não. Uma boa conversa com os vizinhos pode ajudar.
Se tornar área livre é a última etapa para o RN?
Não. Tem ainda a etapa de reconhecimento internacional. O estado seria livre com vacinação, mas sem reconhecimento internacional. Em Santa Catarina houve desgaste muito grande porque levou sete anos para provar que era livre sem vacinação e internacional e durante esse tempo o estado não aproveitou nada, só teve custos porque tinha que cumprir todas as regras e não era reconhecido. Isso fica muito caro para o estado. No caso do Rio Grande do Norte, o estado ficaria ilhado. Livre no meio de outros estados até obter o reconhecimento livre de febre aftosa com vacinação pela OIE. Ele pagaria um preço alto porque não poderia comprar animais de fora e daqui não poderiam sair para outro lugar porque não estaria reconhecido internacionalmente. Quando você reconhece um estado como livre é preciso ter muita segurança de que ele vai obter o livre internacional, mas para obter o livre internacional o entorno tem de estar bom. Então nossa pressão é para que os outros estados consigam avançar. E nós temos esperança que este ano ainda vai haver significativas mudanças no Nordeste.
Então para o RN o melhor negócio é esperar...
Não é esperar não. É se estruturar de tal forma que ao ser avaliado ele esteja em condições de avançar em todas as etapas. Ás vezes é mais confortável esperar que todo um contexto seja atendido para que essa etapa de reconhecimento seja mais curta.
Do ponto de vista comercial os criadores dizem que houve pouco impacto um ano depois do risco médio. Uma vez área livre, o estado vai demorar a ``ganhar´´?
Santa Catarina está há nove anos livre sem vacinação e só agora consegiu abrir alguns mercados. Para que haja alguns impactos mais visíveis é devagar. Não existe em pecuária nada de uma hora para outra.
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